terça-feira, 4 de agosto de 2009

PEDRO SIMON, O SENADOR DO BRASIL

Da altura de 80 anos de vida e de mais de meio século de atividade política, o gaúcho Pedro Simon fez na tarde ontem, da tribuna do Senado da República, com que o sangue do civismo e do amor ao Brasil voltasse a me fazer vibrar e a acreditar que é possível resistir e combater a promiscuidade que infesta a vida pública brasileira.

Ao pedir em um discurso de paz a renúncia do presidente do Senado, de quem foi ministro da Agricultura, Simon não imaginou que a reação da trope de choque de Sarney, exercida pessoalmente por duas figuras que, totalmente ao contrário da moralidade e da história de Simon, alcançaram notoriedade no país, fosse tão imediata, desumana, violenta, ameaçadora e extremamente boçal.

Eu acompanhei a sessão, ao vivo pela TV Senado, e confesso que receei pela integridade física do octogenário senador do Rio Grande do Sul. Ao redor de Simon, poucos ficaram; a maioria, a começar pelo senador Arthur Virgílio, líder do PSDB, acuado por Renan Calheiros, falou pouco, se silenciou ou simplesmente saíu ou não chegou ao plenário. Sob o olhar atento de Rui Barbosa, imortalizado por uma estátua, Pedro Simon teve a solidariedade altiva e destemida de Jarbas Vasconcelos e Cristovam Buarque, e timidamente de Eduardo Suplicy e Virgílio. O Senado voltou a ser a Casa de Joaquim Nabuco, Rui, de Afonso Arinos, de Nelson Carneiro, de Tancredo Neves, de Franco Montoro, de Paulo Brossard. Provocando a separação entre o bem e o mal, o velho Simon, tribuno extraordinário, franciscano por devoção, que foi deputado, ministro de Estado, governador e exerce o quarto mandato de senador da República, e é pobre, sem fortuna, sem contas no exterior, sem grupos de comunicações, sem heranças malditas. Simon é, acima de tudo, a personificação da esperança no ressurgimento dos valores éticos e morais que abandonaram a política e os políticos brasileiros, fazendo surgir e ressuscitar figuras desprezíveis como Calheiros e Fernando Collor, que continua o mesmo - artificial, psicopata, odiento, covarde que vocifera e ladra contra um ancião de 80 anos de idade.

Simon não pregou o ódio e nem incendiou a sessão; foi vítima, sim, da incompreensão dos desesperados. Não atacou Sarney, provou ser seu amigo ao aconselhá-lo a não manchar mais a biografia conquistada em mais de 50 anos de vida pública. Calheiros e Collor, que nunca foram amigos do maranhense, aproveitaram da história de Simon e do próprio Sarney, para se vingarem contra os políticos resistentes à corrupção e contra a mídia que denuncia e não se cala ante a depravação da política e da coisa pública.

Quando vi Collor de dedo em riste e mandando Simon engolir e digerir o seu nome (do senador alagoano) antes de voltar a citá-lo, revi a história não tão distante: o pai de Fernando Collor de Mello, o também senador Arnon de Mello, de revólver em punho, ali mesmo naquele plenário, disparando covardemente contra o desafeto Silvestre Péricles, que estava como Simon na tribuna, e atingindo e matando um outro senador completamente inocente e alheio a tudo, o suplente José Kairala, do Acre. Aquele foi um momento triste e sanguinário no Senado da República, cujo protagonista maior foi o pai do futuro presidente da República, daí provavelmente a explicação da psicopatia nítida do atual senador de Alagoas. Collor já protagonizou outros episódios repugnantes na vida nacional, em especial o escândalo que lhe tirou da chefia da Nação, mas parece que nada aprendeu de positivo, ao contrário, exala ódio até nos gestos e demonstra com um alerta à classe política - é preciso barrá-lo de novo enquanto houver tempo.

Poucos senadores se levantaram em defesa de Simon. Fiquei mais uma vez satisfeito em ter votado em Cristovam Buarque para presidente do Brasil na última eleição. Pequeno e franzino, sem medo dos brutamontes, sentado ao lado do suplente Wellington Salgado - uma das tristes figuras a deixar mais feio o nosso Parlamento, mas que passará depressa e nunca mais voltará -, o pernambuco senador pelo Distrito Federal pediu a Simon que continuasse sem engolir a corrupção, os desmandos, os males que alfingem o país. Salgado, que não sei como conseguiu ser dono e dirigente de um conglomerado particular de ensino, violentando a língua portuguesa e bajulando sem nenhuma noção de pudor a Sarney, Collor e Calheiros, ali estava, tendo um tal Papaléo de sombra e com as canelas afiadas para correr, para dar suporte físico aos dois valentes alagoanos de culhões cor de rosa.

Valente é Simon. Idoso, fisicamente frágil, a sua arma é o verbo. Os seus punhos, apenas para gesticular acompanhando o ritmo das palavras que saem fáceis, diretas, objetivas, atingindo impiedosamente os alvos. Este é o Simon que aprendi a admirar quando o via acompanhando o Dr. Ulysses Guimarães percorrendo o Brasil, enfrentando cães e tanques, despertando a nação do pesadelo da ditadura. Simon não pode nem deve se calar. Não deve ter medo. Os cemitérios estão cheios dos valentões, já nos ensinavam os mais velhos. Simon é o verbo; os outros, o esterqueco. Simon fala o que o Brasil quer ouvir; o que queremos continuar a aprender. Simon ainda vivo é história - que será contada e ouvida com brilho nos olhos pelos brasileiros do futuro; Collor e Calheiros ... nada; não são nada; passarão; Simon ficará.

Com 43 anos de existência, ontem agradeci ainda mais a Deus por ter me dado a oportunidade de me sentir um brasileiro feliz e de mais uma vez me indignar. Obrigado a Pedro Simon, o Senador do Brasil.

Um comentário:

  1. O Dr Décio mostra toda sua Indgnação com as cenas Lamentaveis Vividas no Plénario do Senado.
    Um Velho(não velhaco)com a mais forte e Poderosa Arma: A Verdade. Verdade Que não Acovarda, não Cala, não Intimida, contra Mentira Q Teme, Silencia, Perece.

    ResponderExcluir