quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O APAGÃO DE LÁ É MENOR DO QUE O DE CÁ

É lógico que São Paulo e Rio de Janeiro são as duas maiores metrópoles do Brasil e o sudeste é a região mais rica e desenvolvida do país, e isso não está em discussão.

Entretanto, acordei hoje pela manhã satisfeito e extremamente feliz porque a luz que faltara desde o início da tarde anterior havia retornado. Liguei a tevê para acompanhar o notificiário e o que vi? O Brasil indignado e revoltado pelo apagão - em média de seis horas - que atingiu, como um tsunami das trevas, toda a região sudeste e outros seis estados da federação. As imagens mostrando pessoas desesperadas nas ruas sem trem nem metrô; ônibus congestionados; trânsito ainda mais caótico, provocando acidentes; chefes de família sem poderem adentrar em suas casas, já que os portões elétricos não funcionavam; hospitais pedindo socorro; idosos sufocados pela falta do ar natural e do substituto - os aparelhos pararam ante a descarga das baterias; donas de casa asssutadas e sem uma única vela para acender; consumidores reclamando da cerveja que esquentava e ficava "choca". É, sem dúvidas, um alerta de um novo apagão generalizado como o de 2001.

Mas, caros amigos, esse filme eu e a população de Alto Parnaíba e de Santa Filomena, no sul do Maranhão e do Piauí, assistimos diariamente há trinta anos, em um permanente e irresponsável apagão, sem que as companhias energéticas dos dois estados, CEMAR e CEPISA, tenham tido a punição necessária. Claro que milhões de pessoas foram atingidas no blecaute ou apagão de ontem no sudeste. Nós somos poucos milhares, mas como os de lá aqui também somos seres humanos e sofremos os mesmos danos que eles. O único hospital para atender cerca de 20 mil pessoas nos dois municípios, que não é público mas credenciado pelo SUS, não tem gerador próprio e muitas são as noites em que apenas Deus para salvar vidas e a luz de vela para atrapalhar um pouco as mouriçocas nas noites escuras e calorentas. Ontem mesmo, se não fosse um gerador próprio, minha mãe, com 81 anos, que sofre de asma, não teria como fazer a inalação, assim como minha sobrinha, Ana Carolina, com problemas respiratórios. As donas de casa de cá, precavidas pelo costume imposto, não deixam faltar a vela ou a velha e heróica lamparina, pois é certo que a luz vai embora. No nosso trânsito pequeno, acidentes também ocorrem nas noites escuras sem iluminação. A carne que pode ter se estragado no apagão das metrópoles, aqui apodrece cotidianamente nos açougues e supermercados. Aqui os donos de bares mantêm a vela e a lamparina na mão e o freguês não mais reclama como antes, apenas engole com aparência de sabor a cerveja vencida, estrangada ou apenas choca.

Um comentário:

  1. Prezado amigo Dr. Décio,

    É muito prazeroso e instrutivo ler as matérias postadas em seu Blog.
    Um abraço....e a todos os familiares e amigos.
    Até breve!

    Marcos Mendes

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