sábado, 12 de junho de 2010

CARNE DE PORCO, SEXO E 100 ANOS DE VIDA

Completar um século de vida hoje em dia não é mais uma raridade, principalmente nas grandes cidades e nas nações com os maiores índices de qualidade de vida do planeta.

No Brasil, o maior exemplo de uma celebridade centenária é o arquiteto Oscar Niemeyer, que ultrapassou a barreira dos cem anos.

Entretanto, pessoas como Niemeyer, possuem cuidados especiais pela própria situação econômica e social, vivendo em centros urbanos avançados, com acesso fácil à uma saúde de ponta, excelentes hospitais, alimentação adequada, medicamentos inovadores, conforto luxuoso de moradia, de informação, de lazer, enfim, habitam em um mundo distante anos luzes do interior maranhense.

No último dia 27 de abril, um alto-parnaibano do mais genuíno sertão nordestino, completou um século de existência.

Nascido na zona rural, de onde jamais se mudou Tertuliano Rodrigues da Silva, o seu Terto, raramente se desloca de uma de suas propriedades, a Fazenda Campo Alegre, aproximadamente 100 km da sede do município de Alto Parnaíba, no sul do Maranhão, para ir à cidade receber a sua pequena aposentadoria rural.

No início da semana, seu Terto esteve na cidade e foi ao médico, coisa rara, e ali constatou que o único problema aparente na saúde seria a fragilidade nas pernas, que não o impedem de continuar a andar.

Desta feita, não tive o privilégio de conversar com seu Terto, mas recebi a visita de seu neto, Silvino, de quem é próximo e sua companhia nas poucas viagens, que me relatou passagens surpreendentes no cotidiano de um homem com cem anos.

Ele continua se alimentando como se fosse um jovem, inclusive come carne de porco, de preferência com toucinho, e no jantar. Seu Terto permanece na administração de suas fazendas, seu gado, seus bens, não permitindo a intromissão de filhos, netos e bisnetos. Viúvo pela segunda vez, ao se alimentar recentemente e de forma farta com costelas de porco, o ancião for dormir – dorme muito bem – e se despertou no meio da noite, sentindo que a comida também serviu de estimulante à prática salutar do sexo.

Infelizmente, lamenta o patriarca secular, não tinha uma mulher ao lado.

Com certeza, os médicos e cientistas se assustariam com a experiência de um sertanejo que não mente e nem mais possuiria razões para não dizer a verdade, ou seja, a tão condenada carne de porco, devorada com fartura e no início da noite, é o viagra no interior do sul maranhense.

Onde seu Terto mora não tem banheiro, água potável, energia, saneamento, cujo acesso é por estradas carroçais, sem transporte, telefone, televisão, em que o vizinho mais próximo é o vaqueiro, a quinhentos metros.

A solidão também não encurta a vida, pelo menos no caso de Tertuliano Rodrigues da Silva, que desde a atual viuvez, vive sozinho, prepara a comida, se alimenta e cuida de si próprio.

Ainda saudável e sempre de bem com a vida, simpático e bom de prosa, seu Terto, que não quase não ouve rádio, não tem qualquer luxo, possui bens, administra-os com racionalidade, adquiridos que foram com o suor do resto, aprendeu a fazer um bilhete e a ler, mas a educação que transmitiu aos filhos não lhe permite passar a mão na cabeça dos descendentes em coisas erradas e nem perdoar dinheiro quando lhe devem. É o limite imposto pelos antigos pais e avós que tornam os filhos e netos mais humanos, amigos e decentes.

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