sábado, 13 de agosto de 2011

GOVERNADOR EM SANTA FILOMENA

Não é o do Piauí. O do Estado do Tocantins, Siqueira Campos, desembargou no final da tarde de ontem no aeroporto (em estado de abandono) da cidade sul maranhense de Alto Parnaíba para uma visita de cunho religioso à vizinha Santa Filomena, do lado piauiense do rio Parnaíba, em festejos pela padroeira que dá nome ao município. Retornou agora pela manhã ao Tocantins.

O convite teria partido do filomenense Moisés Nogueira Avelino, ex-governador do Tocantins, antigo arquiinimigo e hoje aliado do atual mandatário do jovem estado, e também da nora, Poliana, filha de Santa Filomena, esposa do ex-senador Eduardo Siqueira Campos, que recentemente perdeu de forma trágica, em acidente aéreo, o filho do casal.

Pesquisando nos arquivos deixados por meu saudoso pai, Antonio Rocha Filho, o Rochinha, encontrei alguns documentos que mostram o empenho dele pela criação do Território e depois Estado do Tocantins e do seu desejo político (realista e detentor de raro sendo estrategista) de que o município de Alto Parnaíba integresse a nova unidade federativa, com farta correspondência trocada com o então deputado federal Siqueira Campos, realmente o criador do Estado do Tocantins.

Datada de 07 de maio de 1975, uma carta de Antonio Rocha Filho a Siqueira Campos com relatos sobre a luta pela emancipação do norte de Goiás e a defesa pela integração de Alto Parnaíba ao que seria o Estado do Tocantins, somente criado em 1988 pela atual Constituição da República. Eis alguns trechos:

"Temos acompanhado, com interesse, a sua atuação parlamentar na luta pela solução dos problemas, nos diversos setores da administração pública, em prol dos municípios do norte de Goiás, estado que tão bem representa no Congresso Nacional. Entre estes problemas, está o da redivisão territorial do País, notadamente, o que mais nos interessa, a criação do Território do Tocantins, assunto comentado e propalado por idealistas da década de 40/50, entre os quais o Brigadeiro Lízias Rodrigues, com artigos em jornais e revistas, e o Juiz Feliciano Braga, de Porto Nacional. Na justificativa de seu projeto de Resolução n. 87/75 que cria a Comissão de Estudos, prevê a anexação de parte do território do Maranhão, o extremo sul, ao Território do Tocantins, atendendo à antiga ligação rodoviária existente entre esta cidade (Alto Parnaíba) e a de Pedro Afonso-Goiás... Realmente, esta ligação, conhecida como 'estrada do sal', construída através de convênio celebrado pelos governos do Maranhão e Goiás, à época dos governadores Sebastião Archer e Coimbra, respectivamente, tinha como finalidade precípua o transporte, mais fácil, do sal para o abastecimento de Goiás, numa região que vinha desde Uruaçú, Porangatú, Porto Nacional, Natividade e outros municípios, feito em costas de animais numa média de dez mil sacos de 50 quilos anualmente. O sal, vindo das salinas do Piauí, Maranhão, Ceará e outros Estados produtores do norte, chegava até aqui pelo rio Parnaíba... Em contrapartida, o goiano trazia os seus gêneros de exportação".

No final da missiva, Rochinha relembra os laços também culturais e históricos entre a região do Alto Parnaíba e o então norte de Goiás, hoje Estado do Tocantins, além do aspecto econômico recíproco - ... pelas mercadorias que vamos buscar no sul, para o nosso abastecimento, o gado de raça que trazemos para melhoria do nosso rebanho - e, até mesmo pela saúde, pela educação da família que buscamos alí, pela afeição reinante, recíproca, desde o povoamento da região entre os seus habitantes. Continuamos, assim, deputado, no propósito de integrarmos o novo Estado a ser criado, com a anexação de toda a faixa territorial do município, a partir do ribeirão Pureza, que limita este ao município de Tasso Fragoso (em vez do Pedra Furada, citado, que fica totalmente dentro desta municipalidade) de sua confluência no rio Parnaíba, às suas nascentes na serra do Penitente, continuando por esta, numa reta, às nascentes do rio Manoel Alves (o grande), e com este com os antigos limites Goiás-Maranhão.

Essa luta de Antonio Rocha Filho para que o município de Alto Parnaíba fosse anexado e integrasse, desde a criação, o novo estado, perdurou até a efetiva criação do Tocantins, levando o autor do projeto que o criou pela Assembleia Nacional Constituinte, deputado Siqueira Campos, a telegrafar ao meu pai, quando este exercia seu último mandato de prefeito do mais meridional e distante município maranhense com relação à capital do estado, em 17.12.1987 (89822 Y MASL; 23861 K DFBR), conforme trechos que faço questão de transcrever:

"A inclusão de Alto Parnaíba e outros municípios do Maranhão e Pará inviabilizaria aprovação projeto Estado do Tocantins. Seria interessante apresentação projeto criando Estado do Mearim, com capital em Imperatriz desmembrando 31 municípios maranhenses, conforme sugestão que fiz em palestra perante Câmara Municipal de Imperatriz. Antonio Luiz Lustosa, prefeito de Lizarda, tem recomendado muito o seu nome aqui".

As forças políticas dominantes do Maranhão não permitiram, naquele momento, sequer a saída de seu território de um único muncípio. Hoje, tramita no Congresso, a passos de cágado, projero criando o Maranhão do Sul, que seria o Mearim, conforme sugestão de Siqueira Campos, mas falta-nos algum parlamentar com a garra e a determinação dele para enfrentar os preconceitos do sul e sudeste do país em criar novas unidades federativas no norte e nordeste do Brasil. Durante o governo do ex-Presidente José Sarney, Antonio Rocha Filho conseguiu recursos para a construção de parte da estrada do sal entre a cidade de Alto Parnaíba e a divisa com o município de Lizarda. O Palácio do Planalto decidiu repassar o dinheiro e a administração da obra, que deveria ficar pronta para a pavimentação e já com obras de arte, ao governo maranhense, então chefiado pelo governador Luiz Rocha. A estrada do sal continua a estrada do tormento. O dinheiro saíu pelo ralo ou virou pó. O governador responsável morreu sem dar explicações.

Mesmo vindo de avião, Siqueira deve ter tomado conhecimento de que a estrada continua como d'antes, ou pior. Ele pode fazer a sua parte como governador do estado da esperança, criado como modelo do novo e contra o caciquismo oligárquico. Tomara que ele tenha se sensibilizado e possa sensibilizar o governo federal, mergulhado em escândalos de corrupção, para que a federalizada estrada do sal saia do papel.

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