quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O ADVOGADO

Em razão de ser muito próximo de meu pai, Antonio Rocha Filho, o Rochinha, desde criança conheci vários advogados, ainda quando morávamos em Alto Parnaíba antes da mudança, em 1978, para São Luís, onde permaneci estudando até 1992, quando retornei à minha terra natal como advogado.

Aprendi a conhecer verdadeiros sacerdortes do direito naqueles idos difíceis em que o Brasil se encontrava mergulhado política e institucionalmente no Estado de Exceção, como o advogado Renato Carvalho, cassado do cargo de juiz de direito pela ditadura e que abraçou a advocacia no sul matanhense ainda mais isolado e desassistido - era radicado em Balsas - com a rebeldia permanente de um Paulo de Tarso e a coerência da tese da liberdade que imortalizou Evandro Lins e Silva.

Já na capital maranhense, convivi com inúmeros advogados, magistrados e membros do Ministério Público, pessoas capazes e decentes, podendo ressaltar a figura ímpar de Pedro Emanuel de Oliveira, um dos meus mestres maçons, que foi secretário de Interior e Justiça, de Segurança Pública, professor de direito, Procurador-Geral de Justiça do Maranhão, mas, antes e acima de tudo, essencialmente advogado.

Amanhã, 11 de agosto, é o dia dedicado ao advogado brasileiro, esse profissional tantas vezes massacrado, discriminado até em salas de audiência, porém essencial e indispensável à administração da Justiça, como bem sentenciou a Constituição de 1988, relatada por um dos maiores advogados de nosso país, Bernardo Cabral, ex-presidente da OAB nacional, e tendo por sub-relator, dentre tantos outros brilhantes operadores do direito, o advogado Nelson Jobim, depois ministro da Justiça e recentemente da Defesa, ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal.

Mas no momento e na data festiva quero fazer um reconhecimento a um autêntico advogado, daqueles que vivem da lide diária, cujos 80 anos não servem de limite à sua atuação profissional, o estimulam a continuar na luta intransigente pelo respeito ao Estado democrático de direito. O Dr. Sebastião Souza da Silva, popularmente conhecido apenas por Dr. Sebastiãozinho, é esse advogado corajoso, ético, correto, altivo, preparado, que não se dobra a ninguém e tão-s0mente ao direito e à Constituição. Filho de Pedreiras e radicado em São Luís, Dr. Sebastiãozinho possui um dos registros mais antigos da seccional da OAB maranhense, o 598, e permanece, como no início da carreira, na trincheira da permanente vigilância pela liberdade e pelas garantias constitucionais do homem, mesmo no exercício de outras missões, como a de Procurador-Geral da Assembleia Legislativa de nosso estado.

Quando a OAB do Maranhão realizou sessão de desagravo público a mim, em 09 de julho de 2004, eu poderia ter escolhido algum colega de faculdade, professor ou outro amigo advogado, mas fiz questão de pedir ao Dr. Sebastião que me representasse na cerimônia, sabendo que o faria melhor do que eu próprio. E assim foi. E assim Jackson Lago, o nosso saudoso governador, me disse depois da emoção incontida em ouvir o discurso empolgado e corajoso daquele gigante da oratório no corpo franzino e pequeno do filho de Pedreiras, seu conterrâneo. E assim Neiva Moreira, o lendário líder da resistência democrática, se reencontrava na fibra daquele advogado que, de dedo em riste, se dirigia ao presidente do Tribunal de Justiça, ali presente, e lhe relembrava que aquela sessão seria desnecessária se os seus reclamos (do Dr. Sebastiãozinho) tivessem sido ouvidos a tempo pela Corte de Justiça maranhense.

Aos 93 anos, o Dr. Sobral Pinto fez sua última petição, um habeas corpus em prol da liberdade de um jovem vizinho ilegalmente preso. Assim como o católico conservador que defendeu o comunista ateu Luiz Carlos Prestes das algemas da ditadura do Estado Novo, o Dr. Sebastião permanece com a diposição de menino, a rebeldia e a indignação do advogado e senador Pedro Simon, a serenidade de Jackson Lago, a ira santa de Neiva Moreira, a oratória de Paulo, advogado e apóstolo, o postulado de Evandro Lins e Silva, a fibra de Edson Vidigal, a prudência enérgica de Pedro Emanuel de Oliveira, o humanismo de Renato Carvalho.

Homens como o Dr. Sebastião Souza da Silva, meu amigo e mestre, fazem um bem imensurável à humanidade. Que Deus o mantenha assim por muito tempo.

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