domingo, 3 de fevereiro de 2013

A TRADICIONAL LAMPARINA

Cresci e jamais a lembrança falhou com relação ao dia 02 de fevereiro. Na Alto Parnaíba dos anos 1970, ainda sem luz elétrica - a iluminação era a motor a diesel, que às 9 e meia da noite era desligado - e mesmo no início da "modernidade" da eletricidade, era dia de colocar, quando caía a escuridão, as lamparinas na entrada e nas janelas de fora das casas. Era o dia do aniversário de dona Gentileza Brito Bastos, vizinha dos meus pais desde o casamento destes na velha rua Urbano Santos, hoje com o nome que homenageia meu pai, Antonio Rocha Filho. Dona Gentileza não nasceu por coincidência nesse dia ou o simbolismo a trouxe ao mundo como uma pessoa que gostava de dançar, de festas, de sorrir, sempre otismista batalhando diuturnamente para criar os filhos sem esmorecer, iluminada.

Fazendo uma rápida pesquisa e como tudo é simbólico quando se trata de crenças e religiões, Nossa Senhora das Candeias assim como a da Candelária, da Luz, da Purificação e da Apresentação são títulos simbólicos pelos quais a Igreja Católica venera a Virgem Maria. Segundo ainda a pesquisa, a invocação de Nossa Senhora das Candeias ou da Purificação remonta aos princípios do cristianismo, tendo Maria, levando consigo o filho Jesus Cristo, cumprindo a Lei de Moisés, após quarenta dias do parto quando ainda a mulher era considerada impura, apresentou-se ao Templo, tornando-se uma procissão com as pessoas conduzindo velas acessas e fazendo o mesmo caminho de Nossa Senhora.

Mas, voltemos à lamparina. Agora no último 02 de fevereiro, já acordei lembrando que era dia de Nossa Senhora das Candeias e do aniversário de dona Gentileza, hoje falecida. Somente mais tarde, conversando com a professora e ex-presidente da Câmara Municipal Maristela Mascarenhas de Araújo, também aniversariante do dia, voltei a me preocupar em ir à casa de meus pais colocar as lamparinas nas janelas e na porta de entrada, logo ao escurecer. Me fizeram cair na real ao receber a informação de que não existem mais as lamparinas artesanais, aquelas descritas por Aurélio Buarque de Holanda ao conceituar candeia: "pequeno aparelho de iluminação, que se suspende por um prego, com recipiente de flolhas-de-flandres...". A nossa lamparina original era móvel e colocada em qualquer canto ou em cima de móveis. Nem mais os descendentes de Domingos Cajazeiras tinham disponíveis naquele dia especial a lamparina. Na casa de meus pais, acredito que assim como nas das demais, a energia elétrica e outras inovações foram fazendo desparecer gradativamente esses instrumentos e objetos tradicionais, artesanais, puros. O grande feitor de lamparinas da época era o saudoso João Sobreira Lima, de Santa Filomena, um "metalúrgico" nato, a quem meu pai contratava para os reparos e preparos de novas lamparinas.  A lampirana a querosene ainda existe, pude constatar após mandar vasculhar o comércio local, mas não é igual àquelas do passado. Seria saudosismo? Com certeza.

Prometi a mim mesmo que darei um jeito de obter uma lamparina ou candeia tal como antigamente, talvez em alguma casa do interior do município onde ainda não chegou luz elétrica ou eventualmente falta velas na despensa. Mas, no próximo dia de Nossa Senhora das Candeias ou das Lamparinas, do aniversário de dona Gentileza, da Maristela, do Alan Vieira, do Jonísio Moreira, da Deusilene Reis e de tantos outros, pelo menos em frente à casa de minha família, se assim a Virgem Maria permitir, as lamparinas estarão acessas ao escurecer de 02 de fevereiro. Neste 2013, acendi uma que comprei em uma loja, mas a aparência é totalmente diferente das antigas. Eu quero é a velha lamparina.     

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